Sem traço, não há forma. Sou a tênue linha de ausência. Tu não podes me ver, ó mortal, pois me fantasio da tua imaginação. Devidamente vestido, brinco com o real daquilo que tu chamas de presente. Presente do que foi, que passa, que é, ainda existe.
Sou o escarro do beijo, cuspido em ti mesmo. Podridão, imundisse. Não te assustes com isso, pois te falo, te mostro, eu sou parte de você. Sou cegueira que enxerga o que tudo sente; sou possibilidade de tudo que nada acontece; sou confusão do insano que vive o real. Sou diferente de você.
Sou o vômito da tua alma, caminhando em tuas veias. Percorrendo o teu sangue. Eu sangro. Em ti, me derramo, me esparramo, te estranho. Estranho és tu que sou eu. Sem mais cerimônias, não quero ser teu inimigo. Também posso ser o beijo do afeto, que te cospe prazer. Sou o prazer dissimulado, de tudo aquilo que viveu. Então prazer, a ti mando meus cumprimentos, de quem sempre esteve, irá sempre estar. Sou tua inconsciência.