sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sou a tênue linha de ausência.

Sem traço, não há forma. Sou a tênue linha de ausência. Tu não podes me ver, ó mortal, pois me fantasio da tua imaginação. Devidamente vestido, brinco com o real daquilo que tu chamas de presente. Presente do que foi, que passa, que é, ainda existe.

Sou o escarro do beijo, cuspido em ti mesmo. Podridão, imundisse. Não te assustes com isso, pois te falo, te mostro, eu sou parte de você.  Sou cegueira que enxerga o que tudo sente; sou possibilidade de tudo que nada acontece; sou confusão do insano que vive o real. Sou diferente de você.

Sou o vômito da tua alma, caminhando em tuas veias. Percorrendo o teu sangue. Eu sangro. Em ti, me derramo, me esparramo, te estranho. Estranho és tu que sou eu. Sem mais cerimônias, não quero ser teu inimigo. Também posso ser o beijo do afeto, que te cospe prazer. Sou o prazer dissimulado, de tudo aquilo que viveu. Então prazer, a ti mando meus cumprimentos, de quem sempre esteve, irá sempre estar. Sou tua inconsciência.

Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)

O beijo, amigo, é a vespera do escarro.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

De encontro

Quero ver
De encontro
Me encontra
Teu canto, encanto
De frente, de costas
Me conta
Te encontra

Teus cantos, teus risos, teus choros
Pois chores
Teu choro deve ser um conforto
De confronto com o conto, que conta quem tu és
De cara com o tempo
Do que passou, o que sentiu
Então chora

Pelo vida, pelo conto, pelo tempo
O tempo que passa
O tempo que inibe
Te inibiu
Então corra

Atrás do que deve, do que deveria ser e ter sido
Por hora que o pêndulo vai, ele volta
E volta, em volta, te envolvo e te dou meia volta
Na volta do mundo, do tempo, do conto
Me conta teu encanto
O que tu és
Sempre quis pertencê-lo

Ostenta-o e reparta-o
Sou parte de você também
Fui parte de quem existiu em você
Te pertenço, eu me pertenço
Predicados que são meus
Os pertenço
De encontro

Fui confronto
Fui a vida, fui o tempo, fui o conto
Sou um conto
Eu sou o teu conto
Que quem conta é você
De encontro, eu lhe encontro
Eu te conto, o que tu és

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

The Pretender (Foo Fighters)

Mantenha-se no escuro você sabe que todos fingem
Mantenha-se no escuro e assim tudo começou

Envie seus esqueletos
Cante como se seus ossos fossem marchar por dentro... outra vez
Necessitam de você enterrado profundamente
Os segredos que você mantém estão sempre prontos, você está pronto?

Eu acabo fazendo sentido
Tendo declarado ignorância como toda sua defesa
Girando até infinito, mas a roda está me girando
Isso nunca termina, nunca termina
Mesma velha história...


Há tempos dizem que sou assim
Eu sou apenas mais uma alma à venda... Oh, bem
A página não será mais impressa
Não somos permanentes... Somos temporárias, temporárias
Mesma velha história...

E se eu disser que não sou como os outros?
E se eu disser que não sou apenas outros de seus brinquedos?
Você é o falso!
E se eu disser que nunca me renderei?

Eu sou a voz dentro de sua cabeça Que você recusa a ouvir
Eu sou a cara que você tem que enfrentar Refletido no seu olhar
Eu sou o que é deixado Eu sou o que é direito Eu sou o inimigo
Eu sou a mão que puxa você para baixo E te deixa de joelhos

Então quem é você?
sim, quem é você?
Sim, quem é você?
Sim, quem é você?

Alma de Pele

Rasgue. Sinta latejando a pele que não possuirá mais. Despido, torna-te visceral. Abstenha-te daquilo que consumes. O Sangue, o ar, o sabor já não te importarão mais. Verei somente estrutura. Enrijecida com trajes de osso. Ossos trajados, materialmente diminutos. Porém o conjunto de tudo que és - assim eu espero - será grandioso.

Rara és tu, alma de osso. Pois pouca entre muitos, teu âmago é de céu e inferno, é de láctea e andrômeda, de mercúrio e plutão. Afortunada és tu, alma de carne. Que pelos rígidos músculos exibem tuas vísceras, que de vísceras valem a carne. Moderada és tu, alma de sangue. Onde na veia percorre a essência de um ser que tem o que ser, mas não sabe o ser.

Mas você!... alma de pele. Tu vagas pelos cantos. Arrasta. Esconde. O mais belo corpo. Beleza que seduz aos olhos dos muitos que se esqueceram. Aos muitos dos tropeços que tiveram nem ao menos tentam ficar nús.

Você possui suor, óh céus, que rega a pele à temperatura que estás. Pois queima-te! Deixa-te levar pela temperatura que tu és. Daquela que tu fostes.

Alma de pele, onde vai parar? Tu vês a beleza. Engana. Quem dera soubestes que quem se exibe na luz, projeta a sombra. Sombra de quem tu és. Sombra de quem tu foras. A muito esquecida. A muito perdida. A pouco mostrada.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Assim como Alice

Assim como Alice, poderei lhe explicar uma porção de coisas, mas não poderei explicar a mim mesma. Pois sei do que sei, e sei do que é, mas não sei do que sou. As metáforas poderão dizer. Mostrarão o caminho que lhe é desconhecido, mas talvez não chegue a ponto algum. Será que lhe assustará se o caminho for cheio de vírgulas? Pense, acreditando ou não, ponto final algum aqui você também não encontraria. E assim iria, sem saber para onde. Talvez o final não lhe importe muito.

Talvez, assim como Alice, não me importe muito onde vai dar ou o que irei encontrar. Mas me verás através do caminho. Já não lhe falei que transpareci?! Escutar-me-á. Saborear-me-á. Acariciar-me-á. Pois ali se encontra tudo o que é; pensa tudo o que não é; e não será tudo o que pensa.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fight Club

"Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema e da globo. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito, muito revoltados."