terça-feira, 11 de outubro de 2011

Minha própria carne

Entrando em uma casa insana, limpo meus pés. Mas o que adianta, se estou em uma casa suja de vermes? Pois bem, estou em uma casa feita de vermes. E essa casa respira, vive; pois essa casa, filha do carbono e do amoníaco, tem vida própria. Cheia de vermes, ela se consome. Sua estrutura é maníaca. Ela é dissimulada e ai se soubesse que vive das sobras organicas, vindas dela mesma. Ai de mim, pois faço parte da casa. Ai de mim, sendo um verme, consumo minha própria carne. Ai de mim, minha própria carne!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Starway to Heaven (Led Zepplin)

Há um sinal na parede mas ela quer ter certeza
Porque você sabe que às vezes as palavras têm duplo sentido
Às vezes todos os nossos pensamentos estão errados.

Oh, Isto me faz pensar
Isso me faz pensar

Há algo que sinto quando olho para o oeste
E meu espírito chora ao partir
Em meus pensamentos tenho visto anéis de fumaça atravessando as árvores
E as vozes daqueles que ficam parados olhando

Isto me faz pensar
Isto realmente me faz pensar

E enquanto corremos soltos pela estrada
Com nossas sombras mais altas que nossas almas, lá caminha uma senhora que todos conhecemos
Que brilha luz branca e quer mostrar
Como tudo ainda vira ouro e se você ouvir com atenção

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Talvez eu seja um velho vaso chinês

Me deparei enfeitando o feio
Ai de mim, pois palavras belas não irão convencer
Palavras enfeitadas, torneadas
Sinto-me sendo parnasiana
Descrevendo o velho vaso chinês
Envolto de brilho, cor, forma
Sou um velho vaso chinês
Enfeitado
Mas o que levo dentro?

Talvez eu seja um velho vaso chinês...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Eclipse (Pink Floyd)

Tudo que você toca
Tudo que você vê
Tudo que você prova
Tudo que você sente
Tudo que você ama
Tudo que você odeia
Tudo que você desconfia
Tudo que você salva
Tudo que você dá
Tudo que você negocia
Tudo que você compra
Mendiga, pega emprestado ou rouba
Tudo que você cria
Tudo que você destrói
Tudo que você faz
E tudo que você diz
Tudo que você come
Todos que conhece
Tudo que você vê passar rápido
Com todos que você briga
E tudo que é agora
E tudo que já passou
E tudo que virá
E tudo esta alinhado debaixo do sol
Mas o sol esta coberto pela lua
"Não há um lado escuro na lua, na realidade 
Na verdade ela é toda negra."

segunda-feira, 28 de março de 2011

Desejo.

Eu poderia usar um desejo. Hoje à noite, tudo se completaria.

Eu poderia usar uma estrela cadente, que enfeita o céu em seu momento de sorte. Assim eu pediria pra voltar no momento em que tudo se esclarece. Em que toda a verdade, conspirando ao redor da órbita do mundo, seria assistida.

Eu pediria que a trama da peça se encerrace com um final feliz. E em uma formal reverência, os atores sairiam do palco com gosto de realização teatral, de papel cumprido. Haveriam aplausos. E, assim, a cortina se fecharia.

O ciclo seria encerrado. Hoje à noite, tudo se elucidaria.

Mas eu não desejo flores. Eu não desejo que o mundo se enfeite de rosas. Eu não desejo que a beleza esclarecida me seja vista. Pois o belo que tu consideras, me é desconhecido.

Vejo a beleza da carne. A beleza do olhos. A beleza dos lábios.

Eu poderia usar um desejo, vindo de um planeta ou asteróide distante. Eu poderia usar um desejo, realizado pelo gênio que vive dentro da garrafa. Eu seria o desejo, dentro de um sonho que tu vives, aquele que te é real.

Mas eu não quero. Pois hoje à noite, a incerteza me satisfaz. A incerteza do que deveria e poderia ter acontecido é o meu momento de nada, em tudo o que tenho.

E a verdade me é sussurada todas as noites, daquilo que existe, orbita. Ela está. Acontece.  Talvez sejamos meros figurantes; ou atores principais; talvez você seja aquele que assiste a peça, sentado numa poltrona bem ao fundo. Mas todos participamos dela. Você, eu e ele.

Abram as cortinas, pois hoje à noite começa "A Peça Sem Fim". Onde meus ossos clamam pela dúvida. Onde meus lábios terão prazer em sentir o gosto do inesperado. Seria como uma aventura, não havendo final. Boa noite, pois hoje o tudo, enfim, começa.

domingo, 27 de março de 2011

A liberdade é o oxigênio da alma. (Woody Allen)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Mude.

E o mundo muda com você.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Wish You Were Here (Pink Floyd)

Somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano
Correndo sobre este mesmo velho chão
O que encontramos?
Os mesmos velhos medos
Queria que você estivesse aqui

quarta-feira, 2 de março de 2011

A menina que roubava Livros - Markus Zusak

Cada qual uma tentativa - uma tentativa que é um salto gigantesco - de me provar que você e a sua existência humana valem a pena.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sou a tênue linha de ausência.

Sem traço, não há forma. Sou a tênue linha de ausência. Tu não podes me ver, ó mortal, pois me fantasio da tua imaginação. Devidamente vestido, brinco com o real daquilo que tu chamas de presente. Presente do que foi, que passa, que é, ainda existe.

Sou o escarro do beijo, cuspido em ti mesmo. Podridão, imundisse. Não te assustes com isso, pois te falo, te mostro, eu sou parte de você.  Sou cegueira que enxerga o que tudo sente; sou possibilidade de tudo que nada acontece; sou confusão do insano que vive o real. Sou diferente de você.

Sou o vômito da tua alma, caminhando em tuas veias. Percorrendo o teu sangue. Eu sangro. Em ti, me derramo, me esparramo, te estranho. Estranho és tu que sou eu. Sem mais cerimônias, não quero ser teu inimigo. Também posso ser o beijo do afeto, que te cospe prazer. Sou o prazer dissimulado, de tudo aquilo que viveu. Então prazer, a ti mando meus cumprimentos, de quem sempre esteve, irá sempre estar. Sou tua inconsciência.

Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)

O beijo, amigo, é a vespera do escarro.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

De encontro

Quero ver
De encontro
Me encontra
Teu canto, encanto
De frente, de costas
Me conta
Te encontra

Teus cantos, teus risos, teus choros
Pois chores
Teu choro deve ser um conforto
De confronto com o conto, que conta quem tu és
De cara com o tempo
Do que passou, o que sentiu
Então chora

Pelo vida, pelo conto, pelo tempo
O tempo que passa
O tempo que inibe
Te inibiu
Então corra

Atrás do que deve, do que deveria ser e ter sido
Por hora que o pêndulo vai, ele volta
E volta, em volta, te envolvo e te dou meia volta
Na volta do mundo, do tempo, do conto
Me conta teu encanto
O que tu és
Sempre quis pertencê-lo

Ostenta-o e reparta-o
Sou parte de você também
Fui parte de quem existiu em você
Te pertenço, eu me pertenço
Predicados que são meus
Os pertenço
De encontro

Fui confronto
Fui a vida, fui o tempo, fui o conto
Sou um conto
Eu sou o teu conto
Que quem conta é você
De encontro, eu lhe encontro
Eu te conto, o que tu és

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

The Pretender (Foo Fighters)

Mantenha-se no escuro você sabe que todos fingem
Mantenha-se no escuro e assim tudo começou

Envie seus esqueletos
Cante como se seus ossos fossem marchar por dentro... outra vez
Necessitam de você enterrado profundamente
Os segredos que você mantém estão sempre prontos, você está pronto?

Eu acabo fazendo sentido
Tendo declarado ignorância como toda sua defesa
Girando até infinito, mas a roda está me girando
Isso nunca termina, nunca termina
Mesma velha história...


Há tempos dizem que sou assim
Eu sou apenas mais uma alma à venda... Oh, bem
A página não será mais impressa
Não somos permanentes... Somos temporárias, temporárias
Mesma velha história...

E se eu disser que não sou como os outros?
E se eu disser que não sou apenas outros de seus brinquedos?
Você é o falso!
E se eu disser que nunca me renderei?

Eu sou a voz dentro de sua cabeça Que você recusa a ouvir
Eu sou a cara que você tem que enfrentar Refletido no seu olhar
Eu sou o que é deixado Eu sou o que é direito Eu sou o inimigo
Eu sou a mão que puxa você para baixo E te deixa de joelhos

Então quem é você?
sim, quem é você?
Sim, quem é você?
Sim, quem é você?

Alma de Pele

Rasgue. Sinta latejando a pele que não possuirá mais. Despido, torna-te visceral. Abstenha-te daquilo que consumes. O Sangue, o ar, o sabor já não te importarão mais. Verei somente estrutura. Enrijecida com trajes de osso. Ossos trajados, materialmente diminutos. Porém o conjunto de tudo que és - assim eu espero - será grandioso.

Rara és tu, alma de osso. Pois pouca entre muitos, teu âmago é de céu e inferno, é de láctea e andrômeda, de mercúrio e plutão. Afortunada és tu, alma de carne. Que pelos rígidos músculos exibem tuas vísceras, que de vísceras valem a carne. Moderada és tu, alma de sangue. Onde na veia percorre a essência de um ser que tem o que ser, mas não sabe o ser.

Mas você!... alma de pele. Tu vagas pelos cantos. Arrasta. Esconde. O mais belo corpo. Beleza que seduz aos olhos dos muitos que se esqueceram. Aos muitos dos tropeços que tiveram nem ao menos tentam ficar nús.

Você possui suor, óh céus, que rega a pele à temperatura que estás. Pois queima-te! Deixa-te levar pela temperatura que tu és. Daquela que tu fostes.

Alma de pele, onde vai parar? Tu vês a beleza. Engana. Quem dera soubestes que quem se exibe na luz, projeta a sombra. Sombra de quem tu és. Sombra de quem tu foras. A muito esquecida. A muito perdida. A pouco mostrada.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Assim como Alice

Assim como Alice, poderei lhe explicar uma porção de coisas, mas não poderei explicar a mim mesma. Pois sei do que sei, e sei do que é, mas não sei do que sou. As metáforas poderão dizer. Mostrarão o caminho que lhe é desconhecido, mas talvez não chegue a ponto algum. Será que lhe assustará se o caminho for cheio de vírgulas? Pense, acreditando ou não, ponto final algum aqui você também não encontraria. E assim iria, sem saber para onde. Talvez o final não lhe importe muito.

Talvez, assim como Alice, não me importe muito onde vai dar ou o que irei encontrar. Mas me verás através do caminho. Já não lhe falei que transpareci?! Escutar-me-á. Saborear-me-á. Acariciar-me-á. Pois ali se encontra tudo o que é; pensa tudo o que não é; e não será tudo o que pensa.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Fight Club

"Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema e da globo. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito, muito revoltados."

sábado, 29 de janeiro de 2011

É o que se é.

Observas a mim e ao meu vulto em um espelho. Ali verás quem sou. Ali o conjunto do real e do insano se entrelaçam e viram um só. Quem vê através do vidro preguiçoso, enxerga. Contradição frente a contradição, digo meu nome. E na imagem invertida se fixa o caos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Isso basta.

A maior descoberta da minha geração que os seres humanos, ao alterarem as atitudes interiores da sua mente, podem mudar aspectos exteriores da sua vida.

(William James)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Oscar Wilde - em O Retrato de Dorian Gray

"Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele. O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo. Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam."

Wendell Berry

"O passado é o que nos define. Devemos esforçar-nos com boas razões, para escapar dele, ou para escapar do que de mau existe nele, mas, somente escaparemos dele, acrescentando algo de melhor.”

Verdadeiros

"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril"
Fernando Pessoa