-Que diabos é você?
-Poderia dizer que sou você, mas não... sou a essência, o que poderia e deveria ter sido, mas podes me chamar de consciência. Quando digo que sou a essência, digo que sou verdadeira. Tu foste inventada ao longo dos anos. Falsa e ilusória. Buscaste predicados que não são teus e pôs-te dona deles. Mentirosa, quase convenceu. Mas todas as noites tu te perguntas quem tu és de verdade. Pois eu te digo, tu és essa imagem que te inferniza, perdida a algum tempo atrás disposta a retomar meu lugar.
- Isso não faz sentido. Eu sou o que a vida e as situações fizeram de mim. Eu apenas vivi e fui sendo quem sou.
- Não, tu não és. E valia alguma coisa quando sabias que não era. Mas usou tanta maquiagem que essa pregou em teu rosto e hoje não é mais possível ver teus traços originais. O que foi feito de ti? As pessoas te conhecem por adjetivos que não são teus. O que te salvaria, deixaste para traz. Viver é muito fácil para os acomodados de pensamentos. Para aqueles que engolem explicações e idéias alheias e não questionam, apenas vivem seguindo regras. A ti foi dado o direito de pensar, criar, viver melhor com tuas constatações e sofrimento, mas a diferença te incomodou e você quis fazer parte da massa acomodada. Não percebeste que jamais teria paz assim? Eu sou a verdade e cedo ou tarde apareço. A verdade traz sofrimento e angústia para os inimigos, os falsos.
- Qual é sua missão então? Me deixar louca?
-Tu estás louca. Mas eu sou teu ínfimo momento de lucidez. A loucura te persegue há anos, desde o dia que deixaste de ser quem era. A loucura não te fazia perceber e por isso não a julgou loucura. Confundiste-a com consciência e afirmaste que era limpa. A loucura é um molde sujo, a consciência é verdadeira e muitas vezes cruel, por isso julgaste-a inimiga.
-Será isso? Será que me moldei para parecer o que por um momento julguei o ideal? Será que não sou nada do que sou? E tudo que acredito não passou de invenção de um eu inventado?
- Tu fizeste isso! Passaste por quem não era e criaste uma teia de aranha, tua própria armadilha. Se os outros te conheceram por quem não era, vão julgar-te louca quando mostrar quem és. A máscara que vestias te deformou.